Natureza e desenvolvimento das crianças
Benefícios e impactos
Os benefícios do contato com a natureza no desenvolvimento das crianças vão muito além do aspecto físico e emocional. Ela pode impactar diretamente na sua formação.
Deitar na grama, pisar na areia, molhar os pés na água, subir em árvores, sentir o cheiro das flores. Espaços naturais ajudam crianças a relaxarem, se desenvolverem de modo mais saudável, estimulam seus sentidos, melhora a oxigenação do sangue e diminui os batimentos cardíacos. O contato com a natureza também ajuda na melhora do sistema imunológico, já que ao entrar em contato com animais e com a terra, a criança estimula o corpo a produzir anticorpos. Além de claro, contribuir para uma vida com mais atividade física e interesse numa alimentação mais saudável.
A falta de contato natural – consequência da falta de natureza dentro das cidades e excesso de tecnologia – pode impactar em problemas como depressão, obesidade e miopia. O pesquisador e co-fundador do Children & Nature Netowork, Richard Louv, criou o termo “Transtorno de Déficit de Natureza” para se referir a esses impactos.
“A natureza é o espaço de pertencimento da criança, de suas raízes com a Terra. A partir da relação com o mundo natural, um mundo que exala aromas, floresce, frutifica, emite sons nativos, e tem sabores diversos, por meio do próprio corpo e sentidos, a criança apreende os princípios que regem a vida na Terra – seus ciclos de nascimento e morte, fluxos, processos dinâmicos, e aprende brincando, na linguagem da infância. ” (Ana Lúcia Machado)
Os estímulos da natureza nos métodos pedagógicos
Esse tema tem ligação com a neuroarquitetura e sua importância no desenvolvimento infantil. Tanto Maria Montessori (método Montessoriano) como Rudolf Steiner (Pedagogia Waldorf) defendem que as crianças precisam de contato com ambientes naturais para se desenvolverem melhor. Há outros benefícios além de produzir sensações e memórias afetivas. A natureza estimula a formação da criança, melhorando funções cognitivas como criatividade, atenção, e da percepção de fazerem parte de algo maior. O amadurecimento psicológico também acontece, já que em ambientes naturais as crianças ficam expostas a situações imprevisíveis, possibilitando aprendizados e aprendendo a lidar com riscos.
Os primeiros anos da vida formam o ciclo do movimento, onde as crianças precisam de atividades corporais espontâneas. Correr em locais com texturas e níveis diferentes favorecem os estímulos sensoriais e o domínio espacial.
Contato com a natureza x desenvolvimento das crianças: dados
De acordo com o Jornal The Guardian, uma análise de mais de 600 crianças de 10-15 anos mostrou que um aumento de 3% em áreas verdes de seus bairros aumentaram a pontuação de QI dessas crianças em 2,6 pontos – efeito visto tanto em áreas ricas, como pobres. Não se sabe exatamente o motivo, mas pode estar associado a níveis mais baixos de estresse, mais brincadeiras ao ar livre – consequentemente mais interação social – e ambientes mais silenciosos. A pontuação média de QI foi 105, mas os cientistas descobriram que 4% das crianças em áreas com baixos níveis de vegetação tiveram pontuação menor que 80, enquanto todas as crianças em áreas com maior vegetação tiveram pontuação maior que 80. Além disso, esse aumento de 3% de áreas verdes resultou numa redução de 2 pontos nos problemas comportamentais como falta de atenção e agressividade.
Também há dados interessantes em um pesquisa americana. Escolas que oferecem oportunidades de aprendizado fora da sala de aula, há uma melhora significativa no aproveitamento dos alunos em diferentes áreas do conhecimento. Em outra pesquisa, crianças brincam de forma mais criativa e cooperativa quando estão nas áreas verdes da escola.
Arquitetura e contato com a natureza
Entrando no tema arquitetura, é possível utilizar a neuroarquitetura para criar ambientes mais naturais e saudáveis para as crianças. Menos materiais artificiais e mais materiais naturais, onde elas possam sentir a natureza é o ideal. O contato visual com a natureza também é importante. Entretanto, se não houver possibilidade, é possível trabalhar com o design biofílico, que traz características da natureza para dentro do ambiente fechado. Além disso, é possível projetar parques naturalizados, que trocam os brinquedos convencionais por elementos naturais como troncos, vegetação, água e a própria topografia do terreno. Esse parques criam uma atmosfera desafiante e novas experiências sensoriais para as crianças.
No quesito proteção ambiental, pouco se pode esperar de um adulto com quase nenhum contato com a natureza durante a infância. A interação entre infância e meio ambiente é bom para os dois lados. Ajuda no desenvolvimento das crianças e ao mesmo tempo gera seres humanos conscientes, que se preocupam com o planeta e sua conservação.
Para ver sobre neuroarquitetura e os impactos no desenvolvimento infantil – a primeira parte desse texto – você pode clicar aqui.
Fontes:
Tobi Thomas. The Guardian: Children raised in greener areas have higher IQ, study finds
Sae Digital. Contato com a natureza no desenvolvimento das crianças.
Porto, Ananda. G1: Contato com a natureza é essencial para o desenvolvimento da criança.
Machado, Ana Lúcia. Educando tudo muda: criança e natureza – tudo o que você precisa saber.
Criança e Natureza. Parques naturalizados: Paisagens para um brincar natural.